HISTÓRIA
A busca por vida nos bonecos é algo vem acontecendo desde a criação de Pinóquio, o filho de Gepeto. No Japão, surgiu o Bunraku, o teatro de marionetes, no século XVI, para entreter o povo de Osaka, cidade notadamente comercial. O Bunraku, que pode ser chamado também de Teatro de Bonecos Joruri, é o encontro de diversos tipos de arte de representação. Em suma, pode-se dizer que o Bunraku funciona simultaneamente com a aglutinação de três manifestações artísticas: boneco, declamação e instrumental. A declamação é o Joruri, influenciado enormemente pela evolução vocal do teatro Nô. O Joruri foi uma arte praticada independentemente o Bunraku, consistindo em declamar trechos clássicos da literatura japonesa.
A peça mais popular dessas narrativas tem por nome “As Crônicas da Princesa Joruri”. É um romance entre o filho primogênito do Clã Genji, Ushikawa (que mais tarde se tornou o general Yoshitsune), de 14 anos e a princesa Joruri, de 13 anos, a filha mais velha da família Yahagi in Mikawa.O Bunraku desenvolveu-se de tal maneira, especializando-se, que o teatrólogo francês Jean-Louis Barrault disse: “Estes boneco são deuses encarnados”. Os movimentos são executados por três titereiros (kugutsushi) vestidos com uma roupa apropriada e ficando às costas do boneco.
MONTAGEM
Os titereiros usam uma roupa especial, preta e com um véu que cobre o rosto. Dessa forma elas podem entrar em sem ser percebidos, confundindo-se com o fundo escuro do palco. Há também ocasiões em que o “titereiro-chefe” usa um kimono colorido sem se preocupar em ocultar-se. Poucas peças permitem que os titereiros apareçam com o rosto descoberto. Cada um dos titereiros tem uma função específica na expressão corporal do boneco. Os seus membros são a cabeça, a caixa torácica, o tronco, os braços e as pernas. Assim, o “titereiro-chefe” (Omo-zukai), usando tamancos altos, insere a mão esquerda na abertura que fica às costas do boneco, segurando uma haste que liga à cabeça. Muitas vezes o tamanho de um boneco equivale ao tamanho de uma criança. O “titereiro-chefe” terá que suportar braço esquerdo todo esse peso, ao mesmo tempo que responde pelos movimentos da cabeça e pela expressão facial do boneco. Para manter o boneco numa postura correta exige curvar-se, sendo tal posição extremamente desconfortável. O maior problema enfrentado pelo “titereiro-chefe” é o cansaço físico.
Um dos auxiliares é o “titereiro-da-esquerda” (hidari-zukai) que manipula o braço esquerdo do boneco com a sua mão direita. Terá que manter o corpo o mais próximo possível do “titereiro-chefe”. No caso de um boneco homem, o terá também que ajudar a suportar o peso usando para isso seu braço esquerdo e segurando com as mãos as ancas do boneco. O “titereiro-da-esquerda” responde por carregar o boneco até o palco, assim como trazer os tamancos grandes de seu chefe.
Por fim, há o “titereiro-das-pernas” (ashi-zukai), que se mantém o tempo todo com as pernas dobradas, em posição inferior. As suas mãos movimentam as pernas do boneco no caso de ser um boneco homem. Em se tratando do boneco mulher, este usa um longo kimono cobrindo as pernas. O titereiro enfia ambas a mão por baixo do costume fazendo os movimentos das pernas – andando, correndo, sentando, ajoelhando e ficando de cócoras. É a pior posição de um titereiro de Bunraku. Reza a tradição que no início o titereiro se torna “as pernas” por dez anos, em seguida o lado “esquerdo” por mais dez anos e finalmente chefe por outros dez anos, totalizando 30 anos para ser um profissional completo.
Confecção
A parte mais importante de um boneco é a cabeça onde transparece a personalidade do representado. Existem aproximadamente 70 tipos diferentes de cabeças. Os bonecos Bunraku são classificados em seis tipos distintos: homem, jovem, mulher, criança, caráter cômico e extra. Cada um desses tipos conta com uma infinidade de variações. No rosto, há uma série de mecanismos articulados capazes de modificar a fisionomia do personagem, mostrando alegria, tristeza, ira e desilusão. Existe uma cabeça transformista, a de Gabu, uma mulher bela que se torna demônio com seus olhos esbugalhados, boca escancarada mostrando dentes felinos, e na cabeça, dois chifres proeminentes.
Utiliza-se madeira de pau-Iownia para a confecção das cabeças. O pescoço é feito separadamente e fixado com cola. Os olhos possuem movimentos em todos os sentidos, à semelhança do olho humano. Até mesmo as sobrancelhas movimentam-se para baixo e para cima, mudando o temperamento do personagem. Uma particularidade: as cabeças de mulheres casadas não possuem sobrancelhas como contam as crônicas medievais. Era um sinal de lealdade ao marido.
Correndo riscos
Por pouco os bonecos Bunraku seriam transformados em peças de museu, numa sociedade que já existem robôs inteligentes, precisos e virtuosos. No Bunraku a emanação é humana. Uma arte que atravessa uma crise, mas está longe de desaparecer.
Fonte: Cultura Japonesa